8 de jan. de 2010

Correio Braziliense

05/01/2010

O pré-sal, a geofísica e o MEC :: Fernando Zaider


Jornalista e editor do Portal Geofísica Brasil (www.geofisicabrasil.com)


  • Em que pesem os excelentes serviços prestados, o Ministério da Educação está prestes a cometer grave erro que poderá conduzir o país a um atraso. Os membros do comitê responsável pelo projeto Referenciais Nacionais de Cursos de Graduação, coordenado e conduzido dentro do MEC, não devem saber a diferença entre geofísica e geologia e acreditam que devem unificar os dois cursos de graduação num só, o de geologia.

    Sem geofísicos, o petróleo abundante e de boa qualidade, que tornaria o país um exportador de hidrocarbonetos, ficaria fadado a permanecer oculto e intocado nas profundezas da camada do pré-sal. Não é possível conhecer a geologia marinha sem a ajuda essencial da geofísica.

    Mas não é só na indústria do petróleo que os geofísicos podem atuar. O setor mineral está aquecido para pesquisa exploratória. E, especialmente em áreas cobertas por espessa vegetação, como a Amazônia, região de difícil acesso por via terrestre, a geofísica aérea ganha em agilidade e logística.

    Atribui-se à geofísica a compreensão da estrutura interna do planeta. Graças aos pesquisadores geofísicos, foi possível elaborar a Teoria da Tectônica de Placas, amplamente aceita hoje e que explica as causas de terremotos e tsunamis.

    Diferentemente da geologia, que estuda a Terra a partir dos afloramentos visíveis na superfície, os métodos geofísicos se baseiam na medição e comparação de fenômenos físicos como eletricidade, magnetismo, radioatividade, acústica, ótica, ondas, sísmica, gravidade, entre outras medidas que nos permitem mapear e “enxergar” a subsuperfície do planeta com grande precisão.

    Não é só no Brasil que a falta de geofísicos qualificados preocupa. No Reino Unido, por exemplo, devido a dificuldades para formar novos geofísicos, a Associação Britânica de Geofísica faz uma série de recomendações para assegurar o “fornecimento equilibrado de geofísicos graduados, aptos a satisfazer as demandas de curto, médio e longo prazos da indústria da energia em geral e do país”. Na introdução de um estudo realizado pela entidade em 2006, Lorde Browne of Mandigley, principal executivo do Grupo BP (British Petroleum), definiu a geofísica como matéria ampla situada no ponto de encontro de muitas das grandes ciências — física, astronomia, ciências planetárias, geologia, ciências ambientais, oceanografia e meteorologia.

    “As observações geofísicas são fundamentais para o nosso entendimento da Terra e seu funcionamento. A geologia moderna é amplamente baseada nessas observações”, afirmou o executivo do BP. E foi além: “A geofísica é uma ferramenta essencial no armazenamento seguro de lixo radioativo, monitoramento de tratados de banimento de testes e armas nucleares, avaliação e mitigação de fenômenos naturais, o sequestro de dióxido de carbono da atmosfera e a caracterização e proteção das fontes de água do mundo. É a única maneira de investigar e aprender sobre os processos e estruturas profundas da Terra e, portanto, um suprimento de geofísicos é vital para o futuro da nação”.

    A Academia Brasileira de Ciências manifestou sua preocupação ao ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende. “A decisão do MEC de extinguir cursos de graduação em geofísica, colocando-os dentro dos cursos de geologia, atinge profundamente os sete cursos em funcionamento (IAG/USP, UFF, UFRN, UFBA, Unipampa, UFPA, UnB), sendo que o mais antigo deles (USP) acaba de completar 25 anos de existência.”

    Para 24 acadêmicos de Ciências da Terra e do Universo, a decisão do MEC pode ser danosa ao desenvolvimento científico e tecnológico da área. Há três novos cursos em fase de projeto nas universidades Estadual Paulista (Unesp), Federal de Ouro Preto (Ufop) e Estadual de Campinas (Unicamp), em vista da carência e grande procura por profissionais da especialidade, motivada pelo incremento da atividade da indústria do petróleo e da exploração mineral no Brasil.

    A convergência de denominações em andamento no MEC, que pretende atualizar e unificar as designações de milhares de cursos de graduação que têm projetos pedagógicos e perfis semelhantes, mas com nomenclaturas diferentes, está para cometer grave erro e poderá, se vier a acabar com os cursos de geofísica, conduzir o país a um retrocesso, freando a formação de profissionais capacitados para atender à crescente demanda por serviços especializados e novos pesquisadores em geofísica.

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