9 de jul. de 2010

Aumenta o registro de tremores de terra no Nordeste

MCT- 05/07/2010

Os moradores de Alagoinha, no agreste de Pernambuco, a 227 quilômetros de Recife, sentiram no início de março o chão tremer 47 vezes em menos de 10 dias. Tremores de terra no Nordeste, que antes eram mais observados em determinados locais da região, passaram a ser identificados nos últimos anos em diversas outras cidades nordestinas, afirma o coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Joaquim Mendes Ferreira.

“Estamos detectando atividade sísmica em várias localidades no Nordeste onde não sabíamos que havia”, conta. “Só neste ano ocorreram abalos sísmicos na Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte”, enumera. Ferreira aborda esse assunto em uma conferência na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que se realiza entre os próximos dias 25 e 30, em Natal (RN).

O abalo mais recente foi registrado na semana passada em Tacaimbó, também no agreste de Pernambuco. Já o de maior magnitude, que atingiu 4,3 graus na escala Richter – em uma graduação de 0 a 10 –, ocorreu no início do ano em Taipu (RN), e foi sentido em um raio de 350 quilômetros, atingindo a capital Natal (RN), Recife (PE) e João Pessoa (PB). Mas não há motivos para pânico, alertam os especialistas. A série histórica dos dados mostra que os abalos no Nordeste são de intensidade ligeira, ou seja, não costumam causar grandes danos. Dificilmente atingem magnitude acima de cinco graus na escala Richter.

De acordo com Ferreira, a constatação de um maior número de tremores no Nordeste se deve à melhoria na comunicação e ao aprimoramento dos instrumentos de monitoramento de atividade sísmica disponíveis na região. Isso possibilita detectar com maior precisão e rapidez abalos sísmicos que antes poderiam passar despercebidos.

O geofísico explica que geralmente ocorrem ciclos de atividade sísmica com maior intensidade, seguidos de outros com menor magnitude, como os que estão sendo registrados no Nordeste nos últimos anos. Mas como esses ciclos não têm duração definida, é impossível prever quando os próximos fenômenos ocorrerão. O que já se sabe é que os abalos ocorrem no Nordeste na forma batizada pelos sismólogos de “enxame”, ou seja, ocorrem vários sismos por dia, durante muito tempo, causando pânico na população.

Causas

O que os especialistas ainda não conseguiram explicar é porque há maior atividade sísmica na região do que em outras no Brasil. Uma das hipóteses é que a crosta continental de algumas áreas do Nordeste é menos espessa do que a de outras do País e, portanto, menos estável e mais propensa a abalos sísmicos.

Realizando pesquisas na região desde 1975, uma das descobertas do grupo de pesquisadores do Laboratório Sismológico da UFRN é que os tremores que estão ocorrendo, principalmente, em Pernambuco, estão relacionados à proximidade com uma ramificação do “lineamento de Pernambuco”, como é denominada uma falha geológica de cerca de 700 quilômetros, com cerca de 30 quilômetros de profundidade, que corta o estado. Isso já foi comprovado por eles.

Entretanto, os estudos ainda não conseguiram demonstrar que a atividade sísmica observada em outras cidades do Nordeste, como em Sobral (CE), tem relação direta com outro lineamento, o “Sobral-Pedro 2”, situado próximo à região. “Há regiões no Nordeste que estão sendo reativadas e outras mais propensas a terem atividade sísmica e que até agora, pelo menos, não está ocorrendo nada”, diz. “Isso demonstra o quanto é difícil explicar as causas dos abalos sísmicos”, diz Ferreira.

A palestra de Ferreira será dia 28, às 10h00.Veja a programação completa do evento no endereço: www.sbpcnet.org.br/natal/home

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