9 de nov. de 2010

Estudo mapeia o futuro do Universo

Folha de São Paulo - 04/11/2010

Telescópio Hubble foi utilizado para prever a movimentação de 100 mil estrelas pelos próximos 10 mil anos.
Cientistas achavam que novos dados provariam a existência de um tipo inédito de buraco negro, mas se decepcionaram.



Nasa/ESA/G. Bacon (STScI)
Ilustração da NASA mostra movimento futuro das estrelas

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O telescópio espacial Hubble virou uma bola de cristal cósmica nas mãos dos astrônomos Jay Anderson e Roeland van der Marel.
Eles compararam imagens de uma região da Via Láctea separadas por quatro anos e conseguiram prever o que acontecerá às estrelas de lá pelos próximos 10 milênios.
O alvo da pesquisa foi um aglomerado de estrelas chamado Ômega Centauri. Visível a olho nu no hemisfério Sul em meio à constelação do Centauro, ele é conhecido desde a Antiguidade, embora os observadores pensassem, na época, que se tratava de uma estrela comum.
Em vez disso, trata-se de um imenso enxame de estrelas compactadas numa área relativamente pequena do espaço. Cerca de 10 milhões delas estão lá reunidas, orbitando ao redor de um centro de gravidade comum.

Mas onde exatamente fica esse centro de gravidade?

Com a visão afiada da ACS (Câmera Avançada para Pesquisas, na sigla em inglês), instalada no Hubble, foram obtidas imagens da região em 2002 e 2006. Ao compará-las, foi possível identificar o padrão de movimento de mais de 100 mil estrelas.
A partir daí, conduziram simulações para ver como aqueles movimentos continuariam a se desenrolar pelos 10 mil anos seguintes. Com isso, puderam determinar com mais exatidão onde fica o centro do aglomerado.


RARIDADE CÓSMICA

Tudo muito interessante. Mas a troco do que a dupla que trabalha do STScI (Instituto de Ciência do Telescópio Espacial), em Baltimore (EUA), faria tanta força (computacional, é bom que se diga) para determinar o movimento dessas estrelas todas?
O objetivo era identificar possíveis sinais da existência de um tipo ainda não confirmado de buraco negro.
De forma geral, esses objetos são caracterizados por uma compressão radical de suas massas, de maneira que ficam tão compactados, sob uma gravidade tão intensa, que nem mesmo a luz consegue escapar de suas superfícies (daí o nome).
Os cientistas já sabem com certeza que eles vêm em dois tipos: os de massa estelar, que são resultado da implosão de estrelas individuais, e os supermassivos, que moram no coração das galáxias e têm mais de 1 milhão de vezes a massa do Sol.
Especula-se que exista um terceiro tipo, de tamanho intermediário, possivelmente no centro de aglomerados globulares como Ômega Centauri. É em busca dele que os cientistas trabalham.

Mas não foi desta vez.

Os cientistas não encontraram uma concentração especialmente alta de estrelas mais próximas do centro.
Além disso, também não viram nenhuma estrela que esteja viajando em velocidade incomumente alta -uma evidência de que a dita cuja teria feito uma passagem de raspão por um buraco negro.
"Em resumo, nossos resultados não validam a suspeita de que haja um buraco negro de tamanho intermediário lá", diz Jay Anderson.
Os cientista defendem, porém, que essa não é a história de um fracasso.
Com os novos dados, publicados no "Astrophysical Journal", agora existirá um retrato preciso da dinâmica do aglomerado à disposição.
O que os astrônomos dizem é que não perderam as esperanças. Querem agora reavaliar esses dados em busca do tal buraco negro intermediário -quem sabe ele não passou batido à primeira vista, dizem, persistentes.

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